KIKINHO – Necrose da Base da Cauda

O Kikinho é um gatinho jovem que nos foi trazido após ter sido encontrado na rua, com uma ferida extensa na base da cauda. Apresentava hipertermia (39,6ºC), dor à manipulação da cauda e necrose extensa da base da mesma bem como dos tecidos moles envolventes. A ponta da cauda já não tinha sensibilidade e era perceptível que a pele estava a destacar-se do tecido subcutâneo subjacente.
Laceração da cauda, sendo bem notória a destruição tecidular (falta de irrigação sanguínea, cor amarelada)
Ao Kikinho foi administrada fluidoterapia de suporte e medicação adequada para controlo da infecção e maneio da dor. Como o Kikinho comia com muito apetite, não foi necessário esperar mais tempo e no dia seguinte foi submetido a uma amputação integral da cauda. Optou-se pela amputação integral visto que não havia praticamente sensibilidade nenhuma e também pela extensão da ferida, cujo risco de infecção era grande.
Passados cerca de 3 dias da cirurgia os pontos começaram a abrir e ao fim de uma semana tivemos que voltar a operar novamente o Kikinho para fazer o encerramento cirúrgico da ferida. Neste momento havia uma preocupação acrescida que era a necessidade de retirar tecido morto dos bordos da ferida sem, contudo, afectar o esfíncter anal: o corte da cauda tivera que ser de tal forma rente, que quase não havia pele íntegra em volta do ânus. Nos 4 dias seguintes à segunda cirurgia ainda houve alguma deiscência da sutura, mas como não foi integral conseguimos que fechasse por segunda intenção, com o Kikinho a fazer uma vida sempre normal. Apenas tivemos que ter algum cuidado em manter a ferida o mais limpa possível pois era frequente fazer aderência das pedrinhas do areão.
Aspecto cirúrgico após a amputação. Note-se que a mesma teve que ser tão rente, que havia o risco de comprometer o controlo do esfíncter anal. O Kikinho ainda teve que ser submetido a uma segunda intervenção cirúrgica porque os pontos abriram e foi necessário voltar a encerrar a ferida. Felizmente, ficou tudo funcional e ele controla as suas fezes como qualquer outro gatinho.
Passados 15 dias, a ferida estava totalmente cicatrizada e o Kikinho foi adoptado. Esperemos que tenha pela frente uma vida muito longa e feliz e que possa esquecer este triste episódio dos seus primeiros meses de vida.
Joana Brito (Médica Veterinária)
3 comentários
Nany Oliveira
21/11/2013 at 22:35
Muito obrigado à bola de pêlo que tratou o Kikinho com muito carinho !
Andre
09/06/2023 at 04:50
O meu gato teve de amputar o rabo, mas agora não faz cocó ou xixi como antes, às vezes ele até faz a posição na caixinha, mas não consegue expulsar o cocó, e o xixi só faz sentado e lambendo. Será que o procedimento cirúrgico afectou essas funções, será que vai melhorar? Já temos um mês e meio desde a cirurgia. Às vezes ele está caminhando e o cocó está pendurado no ânus, cai sozinho.🙁🙁🙁😞
Bola de Pêlo
13/06/2023 at 11:46
Caro André,
Penso que o que descreve pode estar relacionado com a amputação da cauda mas, deveria consultar um especialista em neurologia, para aferir a situação e também, para saber se há possibilidade de tratamento. Se o mesmo for possível, quanto mais tempo deixar passar, mais difícil será corrigir o problema ou conseguir uma eventual reabilitação.
Joana Brito
Médica Veterinária