Diana – Obstipação

A Diana, uma gata Persa com nove anos, há já cerca de ano e meio que vem para consulta por problemas de obstipação. Na primeira consulta arrastava os membros posteriores e parecia ter falta de força nas patas. Sentiam-se massas duras na barriga, que se confirmou na radiografia serem fezes acumuladas e já secas – a que se chamam fecalomas.
A gata ficou para fazer clisteres sob sedação e tentarmos remover a maior parte dos fecalomas (por esvaziamento manual da ampola rectal). Quando este procedimento não é possível, a solução para este problema passa pela remoção cirúrgica dos fecalomas.
No caso da Diana, conseguimos remover algumas fezes. A gata foi colocada a soro endovenoso para promover a hidratação, foi prescrita medicação para promover o esvaziamento intestinal, bem como cobertura antibiótica.
Passados 7 meses, voltou a ter dificuldades em defecar – desta vez os donos sabiam que não defecava há 3-4 dias, mesmo tomando laxante e aplicando clisteres. Repetiu-se o procedimento e indicou-se, para além da medicação, mudar a ração para uma com maior teor em fibra, para prevenir a obstipação.
Após 6 meses, repetiu-se a situação. A Diana vomitava qualquer laxante líquido, mantinha a inapetência por comida húmida e desta vez não defecava há uma semana. Ficou para fazer clisteres mas não se conseguiu retirar nenhum fecaloma, pela dureza dos mesmos. No dia seguinte, com mais clisteres, conseguimos remover 1 fecaloma e desagregar o seguinte. Teve ainda de repetir-se o tratamento mais um dia para que a Diana começasse a defecar sozinha e optou-se por um laxante que se administrava na água de bebida. Reforçou-se a importância de dar à Diana uma alimentação rica em fibra, adequada à situação de obstipação.
Volvidos outros 6 meses, a Diana voltou a não conseguir defecar. Sentiam-se muitos fecalomas à palpação abdominal, e repetiram-se os procedimentos anteriores, bem como a medicação. Desta vez a Diana já tinha deixado de comer e estava a vomitar. Apurou-se que a ração que estava a comer era para problemas intestinais mas não a indicada para prevenir os fecalomas.
Adoptaram-se os mesmos procedimentos e conseguiram retirar-se a maioria dos fecalomas.
A recuperação foi mais lenta e desta vez a Diana teve de ficar internada mais dias, pois o rim tinha sido afectado mas acabou por recuperar.
A Diana, por ser Persa e ter o pêlo mais comprido, apresenta maior risco de ter este problema (muitas vezes os fecalomas formam-se pelo excesso de pêlos ingeridos aquando da higiene dos gatos) – além disso, no caso particular desta gata, rejeita comida húmida e qualquer laxante, o que não facilita a tomada de medidas preventivas. Existem outras causas predisponentes como doenças que afectam o intestino, neurológicas ou mesmo uma lesão traumática que tenha afectado a estrutura óssea da bacia (e por isso o diâmetro por onde o intestino passa).
Este é um problema que tem tendência a repetir-se, como vimos no caso da Diana.
Por vezes o intestino fica tão dilatado que perde a sua capacidade de se contrair e nessas situações esse segmento intestinal tem de ser removido cirurgicamente. A melhor prevenção é certificarmo-nos de que os nossos gatos defecam regularmente (no máximo de 2 em 2 dias), prestar atenção a sintomas de bolas de pêlo e tomar medidas para que a situação não se agrave e chegue à formação de fecalomas.
Teresa Fonseca (Médica Veterinária)
2 comentários
Kátia Meier
04/03/2021 at 16:36
Obrigado pela partilha do caso clínico 😉
Isabel
08/01/2024 at 16:19
Obrigada por compartilhar o caso clínico, Doutora. Curso Medicina Veterinária e estou utilizando os seus relatos para estudos.