Lua – Um caso de Linfoma
O linfoma é um dos tumores mais comuns do cão e resulta de um desenvolvimento neoplásico das células linfoides de órgãos como o fígado, o baço, os linfonodos ou a medula óssea. No entanto, como os linfócitos existem em qualquer tecido corporal, os linfomas também se poderão desenvolver em qualquer outro órgão corporal.
Afectam normalmente animais de meia-idade ou cães idosos e algumas raças, como os Boxers, Rottweilers, Scottish terriers ou Golden Retrievers, têm uma maior predisposição para desenvolver a doença.
A forma mais comum de linfoma canino é a multicêntrica, isto é, aquela que leva a um aumento generalizado de todos os linfonodos. É a forma que afecta 80% dos cães com linfoma e, na grande maioria dos casos, é assintomática até fases mais avançadas da doença. Os sinais clínicos que a caracterizam são: letargia, anorexia, vómito, perda de peso.
O diagnóstico de Linfoma é normalmente relativamente simples de se obter, recorrendo-se a uma citologia por aspiração de algum material celular dos linfonodos aumentados.
Tratando-se de uma doença oncológica o tratamento para o Linfoma passa por estabelecer um protocolo de quimioterapia adaptado à doença e ao animal em questão. Os resultados e o prognóstico são, na maioria dos casos, bastante animadores.
A “Lua” veio à consulta pela primeira vez em Março porque não comia há 4 dias e porque tinha um inchaço na zona do pescoço e mandíbula. Encontrava-se mais apática, a beber mais água que o habitual e com algum desconforto na região do abdómen. Durante o exame físico verificou-se que apresentava, de uma forma generalizada, um aumento significativo de todos os linfonodos. Foi-lhe colhida uma amostra de sangue para um painel geral e foi feita punção ganglionar. Enquanto aguardávamos a chegada desses resultados, a “Lua” foi medicada com antibiótico e anti-inflamatório. Nos dias seguintes houve uma ligeira melhoria dos sinais clínicos, no entanto, o resultado das análises de sangue sugeria um forte suspeita de Linfoma, embora a punção ganglionar tenha sido inconclusiva. Foi realizada ecografia abdominal que revelou um aumento significativo do baço, do fígado e dos linfonodos mesentéricos. Para além disso, o fígado apresentava alterações estruturais revelando a presença de um nódulo com cerca de 2 cm de diâmetro. Foi feita uma punção ao baço cuja avaliação citológica confirmou a presença de um Linfoma. Perante este diagnóstico, foi estabelecido um protocolo de quimioterapia que a “Lua” teve de fazer ao longo de várias semanas.
No caso da “Lua” ela foi sujeita a um tratamento de quimioterapia endovenoso que exigia que viesse à clinica semanalmente para o fazer. Nesse mesmo dia era controlada através de análises sanguíneas. Posteriormente, os intervalos foram alargados para sessões a cada 3 semanas. Manteve-se sempre muito bem disposta e com valores analíticos muito controlados. O protocolo quimioterápico da “Lua” decorreu ao longo de seis meses, tendo entrado em fase de remissão no final deste período.
Devido à grande capacidade de reincidência deste tipo de tumores, um animal com Linfoma deve ser controlado analítica e ecograficamente de forma regular. No caso da “Lua”, cerca de um mês após terminar o protocolo de quimioterapia, foi realizada nova ecografia abdominal onde não foram detectadas alterações sugestivas de reincidência tumoral.
Cerca de um mês após este último controlo, a “Lua” apresentou-se à consulta com história de edema na zona frontal da cabeça e um ligeiro aumento dos gânglios linfáticos retrofaríngeos (embora todos os outros de tamanho normal), o restante exame físico sem alterações. Foi medicada com anti-inflamatório, no entanto, houve uma fraca resposta a este tratamento e voltou em quinze dias com Linfadenomegália generalizada, maior dificuldade respiratória e abdómen mais pendular e sensível à palpação (sugestivo de ascite, presença de líquido abdominal). Nesse mesmo dia fez um novo protocolo de quimioterapia endovenoso, que repetiu ao fim de 7 e 21 dias. Durante este período o edema da cabeça desapareceu, os gânglios linfáticos reduziram um pouco, a respiração normalizou e o líquido abdominal diminuiu consideravelmente. A “Lua” passou então a fazer um protocolo de quimioterapia por via oral, em casa, tendo ficado agendado um novo controlo analítico e ecográfico passadas duas semanas.
Infelizmente, a “Lua” teve uma nova recaída ao fim de uma semana, com agravamento dos sintomas respiratórios e de acumulação de líquido abdominal, não tendo resistido a esta nova investida do Linfoma. Acabou por morrer em casa.
Vera Pires (Médica Veterinária)
6 comentários
Thiago
29/08/2019 at 17:18
O meu Veterinário efectuou a eutanásia do meu cão hoje, ele tinha uns 30 tumores, até no céu da boca, doença muito maligna.
Bola de Pêlo
05/09/2019 at 08:55
Lamento a sua perda. É de facto uma doença muito grave, e infelizmente, não é assim tão pouco frequente.
Joana Brito
Médica Veterinária
DPN
26/03/2022 at 07:14
O meu cão tem 14 anos e foi diagnosticado com linfoma. Está com uma tosse constante, sei que não tem cura e que acabarei por ter que fazer a eutanásia quando agravar. Mas quando saber a hora certa para isso? É muito difícil essa decisão.
Bola de Pêlo
28/03/2022 at 19:52
Boa tarde.
Decidir o momento certo para eutanasiar um animal nunca é fácil; costumo dizer aos meus Clientes que o devem ponderar quando o animal já não aparenta ter qualidade de vida: não come, não se limpa, não interage com o dono, apresenta dor difícil de controlar ou dificuldade respiratória.
Desejo-lhe ainda muitos momentos de qualidade com o seu cão e que consiga tomar esta decisão difícil no momento certo. Acho acima de tudo, que nunca devemos ser egoístas e querer tê-los connosco a todo o custo.
Joana Brito
Médica Veterinária
Mariana Castro
02/02/2024 at 19:11
A minha cadela tem 8 anos e fez ontem uma citologia. Tem os linfonodos inchados (todos), mas é o único sintoma que apresenta. A médica veterinária indicou logo consulta de oncologia e mencionou a presença de um linfoma. Ainda tenho uma leve esperança de que seja qualquer outra coisa e de que haja uma resolução. As pesquisas que tenho feito online levam-me a resultados de 1-2 meses de vida sem tratamento e no máximo 12 com quimioterapia. É mesmo real? Não há como ultrapassar esta doença?
Bola de Pêlo
05/02/2024 at 17:15
Boa tarde Mariana.
Infelizmente é mesmo assim… a esperança de vida nestes casos, mesmo com quimioterapia, não é muito grande.
Espero que não se confirme esse diagnóstico.
Joana Brito
Médica Veterinária